O crescimento do PIB no primeiro trimestre foi bastante forte. Qual o impacto disso na redução da pobreza?
Marcelo Neri - O PIB surpreendeu a muitos. Mas, nos últimos 12 meses, considerando abril ante abril, a pobreza está caindo a um ritmo de 10%. A Meta do Milênio (das Nações Unidas) é reduzir 50% em 25 anos. Portanto, estamos fazendo 25 anos em cinco.
A boa notícia, portanto, é que o PIB vem acompanhado de redução da desigualdade. Durante o milagre econômico (nos anos 70), a gente cresceu a taxas equivalentes às atuais, mas a desigualdade aumentou muito.
Agora, temos um aumento forte do PIB, mas a renda está ficando mais bem distribuída. Em 2009, ocorreu uma parada nesse processo, mas houve uma recuperação depois. Agora, estamos entrando em um processo de redução da desigualdade mais forte do que no período entre 2003 e 2008.
O sr. até já batizou esse período (2003-2008) como a "pequena grande década". Estamos em um processo mais acelerado ainda?
Mais acelerado. Para minha surpresa, a economia já está aquecida desde fevereiro de 2009. Não saímos da crise há três meses, mas há 15 meses. Só que o passo agora está mais acelerado do que no período pré crise. O que eu esperava que começasse a acontecer em janeiro de 2010 está acontecendo desde fevereiro de 2009.
A crise chegou, não foi marolinha nem tsunami, mas foi tão profunda quanto rápida. Neste instante, estamos em ritmo mais alto do que entre 2003-2008, quando a pobreza caiu 43% e quando 31,9 milhões de pessoas subiram às classes ABC, o equivalente a mais de meia França.
Entre 2010 e 2014 serão mais 36 milhões subindo às classes ABC. Para isso, teremos de crescer 5,3% per capita ao ano. Pela Pnad, a economia cresceu 5,3% per capita real, já descontados o crescimento da população e a inflação. Pelo PIB, crescemos 1,5 ponto abaixo, em média, por ano.
Ao mesmo tempo, tivemos uma redução forte da desigualdade, que vem desde 2001 e se acelerou entre 2003 e 2008. Agora é a combinação dessa projeção de 5,3% e o mesmo ritmo de redução da desigualdade de 2003 a 2008.
Se conseguirmos repetir isso daqui para a frente, a pobreza, que caiu de 50 milhões para 29,9 milhões entre 2003 e 2008, cai de 29,9 milhões para 14,5 milhões, à metade. Ao contrário de outros ciclos de crescimento, que não distribuíam a renda, este é diferente. O que acontece agora não é igual ao que aconteceu no Plano Cruzado (1986) ou no próprio Plano Real (1994).