Os últimos ataques de Serra a Dilma e ao governo do presidente Lula acentuam a queda do tucano nas pesquisas. É o que afirmam os analistas políticos á Agência Estado."O eleitor não gosta de ataques porque sente que deixou de ser o foco do candidato'', explica o cientista político e consultor de marketing político Rubens Figueiredo. ''Só o eleitor-torcedor gosta de ataque e este já está convicto sobre em quem votará.'' O professor Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reforça: ''É preciso dosar prudentemente a carga''.
Desde a semana passada, duas pesquisas de intenção de voto já apontavam a queda de Serra e o crescimento de Dilma. Na sexta-feira, dia 21, o tucano acusou a existência de ''patrimonialismo selvagem'' e ''bolchevismo sem utopia'' no governo federal. No sábado, dia 22, o Instituto Datafolha mostrou empate entre Serra e Dilma, ambos com 37% das intenções de voto. A diferença entre os dois era de 12 pontos em abril.
Serra voltou à carga na última terça-feira em sabatina com os presidenciáveis promovida pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI). Reclamou do formato do evento, que não permitia o debate entre os candidatos, e ironizou a fala de Dilma, dizendo não ter entendido as opiniões da petista em relação à questão tributária e à macroeconomia. Anteontem, o tucano atacou o governo boliviano, de Evo Morales, próximo a Lula. Disse que o país faz ''corpo mole'' e é ''cúmplice'' no tráfico de drogas para o Brasil.
Roberto Romano, filósofo e professor de ética e filosofia política da Unicamp, aponta falhas na campanha tucana em relação às bases regionais de apoio a Serra. ''De nada adiante criticar o adversário se o candidato não tem retaguarda, se não tem quem replique esse discurso nacional no âmbito regional. As bases transformam o discurso em voto'', disse.
Para Romano, o PSDB precisa organizar as bases e parar de ''gastar tempo'' com a ''novela'' da indefinição do vice de Serra - o ex-governador mineiro Aécio Neves reiterou ontem que disputará o Senado. ''Se modificações urgentes não vierem, prevejo que a candidatura de Serra emperra já em julho'', afirmou. ''A falta de um vice está associada à ausência de alianças que sustentem a candidatura. Não se faz campanha só com um candidato virtuoso.''
Líderes tucanos apostam em junho como o mês da virada a favor de Serra e depositam boa parte da esperança no efeito da exibição de inserções e da propaganda partidária do PSDB e de partidos aliados. Romano relativiza essa avaliação. ''O tempo de TV é uma espoleta. Ele arma o revólver. Mas é preciso que a bala saia. E, para que a bala saia, é preciso esse trabalho estratégico de organizações das bases, que já deveria ter sido feito.''