O Brasil decidiu apoiar formalmente o Estado palestino nas fronteiras de 1967, informou nesta sexta-feira, 3, o Itamaraty. A decisão atende a um pedido nesse sentido feito ao presidente Lula, há pouco mais de uma semana, pelo presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas.
Na carta enviada no último dia 24, Abbas culpa Israel pela paralisia das negociações de paz e pede a Lula o reconhecimento do Brasil ao Estado palestino antes do fim de seu mandato. "Israel ainda desafia o mundo inteiro o mundo inteiro e insiste em suas atividades colonizadoras'', escreveu Abbas. "Tal posição dificulta qualquer possibilidade de se alcançar um acordo por meio de negociações''.
As gestões palestinas ganharam impulso em julho, durante a visita a Brasília do comissário de Relações Exteriores do Fatah (principal força política da ANP), Nabil Shaat. Embora tenha prometido seu apoio, o governo brasileiro preferiu fazer o anúncio depois da eleição presidencial para não causar danos à campanha de Dilma Rousseff, contou uma fonte diplomática, pedindo anonimato.
A resposta de Lula ao pedido de Abbas destaca o apoio histórico do Brasil à causa palestina — "em particular durante meu governo''. Em nota, o Itamaraty lembrou que mais de cem países reconhecem o Estado palestino. A maioria, incluindo o Brasil, expressou seu apoio em 1988, ao votar favoravelmente à proclamação do Estado palestino na Assembleia Geral da ONU.
A iniciativa teve peso simbólico mas pouco efeito prático, e o Estado palestino continuou sendo apenas uma aspiração.
Campanha
Nos últimos meses, frustrada com as dificuldades do processo de paz, a ANP começou uma campanha para obter apoio internacional a um Estado palestino nas fronteiras de 1967, a fim de aumentar a pressão para que Israel se retire dos territórios ocupados há 43 anos.
O Brasil é o primeiro país a atender ao pedido. A esperança da ANP é que outros países latino-americanos sigam o exemplo. Cuba, Nicarágua, Costa Rica, Venezuela e Bolívia já reconheciam o Estado palestino.
Israel reagiu com insatisfação à decisão brasileira. "É decepcionante'', disse à Folha a chefe do Departamento de América Latina da Chancelaria israelense, Dorit Shavit. "Os palestinos querem criar um Estado sem negociações, o que é inaceitável''.
Para o palestino Nabil Shaat, o anúncio reforça o apoio da comunidade internacional a uma solução pacífica para o conflito. "É um dia de alegria e entusiasmo para os povos da Palestina e do Brasil'', disse.
Consultado, o Departamento de Estado dos EUA considerou o reconhecimento "prematuro''.
"Negociações são o caminho para que as partes alcancem a realização de suas aspirações -para os israelenses, segurança, e para os palestinos, um Estado independente, viável e soberano'', disse por e-mail um porta-voz da Chancelaria.
Valor simbólico
Em Mar del Plata (Argentina), o chanceler Celso Amorim disse que o reconhecimento é a melhor maneira de o Brasil contribuir para o processo de paz num momento em que as negociações estão se "estancando''.
""Na realidade, é uma mera atualização da posição brasileira. [Mas] não deixa de ter um valor simbólico, para fortalecer um processo pacífico para a questão do Oriente Médio'', disse o ministro ao chegar à 20ª Cúpula Ibero-americana.
Amorim disse ainda que a medida não deve alterar as relações diplomáticas e comercias com Israel, com quem o Brasil mantém um acordo de livre comércio por meio do Mercosul e projetos de cooperação tecnológica