Espero que a decisão anunciada pelo Banco Central (BC), de aumentar o compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado na instituição), seja uma antecipação de várias medidas para evitar um aumento dos juros, altamente danoso para nossa economia e seu crescimento em todos os sentidos.
O Brasil não pode agir como se estivéssemos vivendo uma situação normal no mundo. Além da crise européia e do impasse americano, tudo indica que a China tomará medidas com repercussão na economia mundial no ano que se aproxima.
Assim, não podemos, numa conjuntura de guerra cambial e comercial, e de recessão na Europa e nos Estados Unidos - que mal conseguem crescer - tratar a política monetária sem levar essa situação em conta.
Elevar os juros estanca o crescimento econômico
Subir juros, todos sabemos, desestimula os investimentos, encarece o serviço da dívida, estimula a entrada de dólares e valoriza o real. Não ajuda, pelo contrário, estanca o crescimento econômico que, no nosso caso, tudo indica, terá que ser para dentro, apoiado no mercado interno, e nos investimentos.
Este caminho está confirmado, inclusive, pela pesquisa regular que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulga hoje apontando que 92% dos empresários ouvidos vão investir mais em 2011 visando o mercado interno - o que é ótimo. Sem falar que temos de priorizar a América do Sul e sua integração e, em médio prazo, aumentar nossa competitividade e produtividade.
O cenário internacional recomenda, portanto, que aprofundemos nossa estratégia de crescer para dentro, com distribuição de renda, fortalecendo nosso mercado interno, mantendo os investimentos públicos, incentivando os privados e as parcerias.
Elevar taxas é irracional e absurdo
Mas, é fazer isto sem ilusões de que vamos avançar, ampliar nossas exportações em curto prazo. E fazer sem subir juros. Pelo contrário, temos que fazer de tudo para reduzí-los em geral na economia, e particularmente a taxa Selic.
Nada mais irracional e absurdo do que esse discurso de juros mais altos que o mercado, com a simpatia e os amplos espaços obtidos na mídia, fomenta diariamente. Vejo, hoje, que os rentistas e o mercado partem para o vale tudo. Pretendem atropelar e obter alta dos juros de qualquer maneira.
Há até quem defenda - e na velha tática do fato consumado - que, como o futuro presidente do BC, Alexandre Tombini, vai ser sabatinado pelo Senado na próxima 3ª feira, que ele já assuma no mesmo dia o comando da última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) deste ano e autorize uma elevação da taxa Selic em 0,25% já e mais duas altas de 0,5% cada uma até abril.
Conspiração contra o crescimento sustentável
Juros mais altos, repito, significam mais dólares, real mais valorizado, mais despesas com o serviço da divida interna, portanto mais déficit, ou menos investimentos e mais gastos. Na proporção a que elevam essa discussão, porém, ela até parece uma conspiração contra o crescimento sustentável.
Eu espero que não prospere essa histeria típica do mercado e dos rentistas. Caso contrário vamos amargar em 2011 um crescimento medíocre novamente, e colocar em risco nossa política de desenvolvimento a longo prazo.