O gargalo da infraestrutura esteve em evidência no debate eleitoral dos candidatos à Presidência da República. Temas como portos, aeroportos, rodovias e energia estiveram nos discursos dos presidenciáveis como objetivos de melhorias para acelerar o crescimento da economia nacional. A diminuição dos custos de transportes, de energia e de logística para que a produção brasileira tenha mais competitividade está no caminho de Dilma Rousseff, eleita hoje (31) a primeira mulher presidente do Brasil.
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os custos de transporte no Brasil são superiores à média do mercado mundial. Na exportação da soja, por exemplo, o custo com o transporte do produto pode ultrapassar 30%. Nos Estados Unidos esses gastos chegam a 19%.
No caso da energia elétrica, os custos e a disponibilidade para as indústrias também oneram o produto que chega com preço alto para o consumidor. Segundo a CNI, entre 2002 e 2007, a tarifa média para a indústria cresceu 21,6%, reflexo da restrição ao licenciamento ambiental de hidrelétricas e dos encargos setoriais que incidem sobre a conta de luz.
Na opinião do coordenador do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ), Nivalde de Castro, será preciso ampliar os projetos de construção de hidrelétricas, especialmente na Amazônia. “O desafio maior vai ser sensibilizar a sociedade brasileira da importância da construção de centrais hidrelétricas de grande porte na região Amazônica. O novo governo vai ter que mostrar para a sociedade o quanto essas usinas são importantes”, disse.
O presidente do Conselho de Infraestrutura da CNI, José Mascarenhas, afirmou que o total aplicado no país em infraestrutura é de 2% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o que corresponde a um terço do que é gasto na China e no Chile e à metade do que é gasto na Índia. “É preciso no mínimo dobrar esses investimentos. Se o governo não tem capacidade de fazer ele próprio, ele tem que criar condições para que o setor privado faça. Mas não pode deixar de aumentar esses investimentos, e modernizar a gestão”, afirmou.
Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), um dos fatores que mais aumentam o custo da produção no Brasil é a deficiência ou obsolescência da infraestrutura em algumas áreas e em regiões do país. “Por isso, o investimento em infraestrutura é determinante para melhorar a competitividade dos bens e serviços produzidos no Brasil e, consequentemente, aumentar o potencial de crescimento da economia brasileira”, afirmou o vice-presidente da entidade, Ralph Lima Terra.
Terra também defendeu mais investimentos no setor de transporte e logística, incluindo todos os modais, para reduzir o chamado custo Brasil. Para ele, o setor energético é também determinante, bem como a melhoria da eficiência do setor portuário e a ampliação de investimentos na expansão da malha ferroviária, com foco prioritário nas zonas de expansão da fronteira agrícola.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, disse que é preciso encontrar uma forma de manter as contas equilibradas e ao mesmo tempo elevar a infraestrutura brasileira, colocando-a num padrão de primeiro mundo. Para isso, na sua avaliação, será necessário investir em novas formas de financiamento de projetos, além de apostar em planos de investimentos a longo prazo.
“O governo tem que deixar de ter planos como o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], que é apenas uma colagem de vários projetos individuais, e realmente promover um grande programa de investimento em infraestrutura, com medidas para estimular a iniciativa privada a fazer a sua parte”, disse.