Zeca Dirceu ()
Onipresentes e de fácil acesso, casas de apostas online – as chamadas “bets” -- viciam e arruínam famílias. Por isso, devem ter o mesmo tratamento que cigarros e bebidas: proibição de publicidade e alta taxação. Os dados são estarrecedores.
Pesquisa recente do Banco Itaú mostrou que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões em casas de apostas online nos últimos 12 meses, sofrendo um prejuízo de R$ 23,9 bilhões. Esse número equivale a 0,2% do PIB brasileiro, 0,3% do consumo total e 1,9% da massa salarial. É uma dinheirama.
Pessoas humildes têm sido enganadas 24 horas por dia, com um turbilhão de anúncios na mídia, em jogos de futebol e nas redes sociais, onde prosperam figuras públicas e os chamados influencers, que manipulam a boa-fé das pessoas e prometem o milagre de milhões de reais aos incautos.
Isso atinge frontalmente a saúde financeira, mental e física de jovens e adultos, mas até crianças têm ficado expostas a essa insidiosa máquina de fazer dinheiro. Boa parte das plataformas está no exterior, sem transparência e nenhum controle público nacional.
Há relatos de que até beneficiários do Bolsa Família detonam o que ganham nas chamadas bets e em jogos como o conhecido Tigrinho. Há trabalhadores rurais endividados, famílias que perdem suas casas, adoecimento mental, diminuição de recursos para a compra de itens básicos. Pior, há casos de suicídios de jovens que não conseguem pagar o que devem.
O hábito torna-se um vício insustentável, em grande parte dos casos, gerando também problemas graves do relacionamento familiar e afetivo, isolamento social, sensação de fracasso e até endividamento insolúvel. O tratamento de problemas de saúde mental relacionados ao vício já tem impactado substancialmente no SUS.
Diferentes estudos mostram que cerca de 86% dos brasileiros que fazem este tipo de jogo já estão endividados. Antes restrita ao público que torce por times de futebol, a prática espalhou-se a todos os segmentos sociais, diante das milionárias verbas de publicidade das casas de apostas em todos os meios de comunicação e redes sociais. Vende-se a ilusão da riqueza sem trabalho.
Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, no total são 52 milhões de brasileiros adultos que já fizeram apostas esportivas em sites ou apps especializados. Desses, 79% são das classes C, D e E, e 76% possuem cartão de crédito.
Estudo da consultoria PwC Strategy& do Brasil mostra que as apostas equivalem a 76% das despesas de "lazer e cultura" das classes D e E. Cerca de 5% do que é destinado à alimentação. Fica mais grave a estatística quando se sabe que 43% do povo brasileiro revela não ter segurança financeira, conforme mostra a pesquisa Hopes and Fears 2024.
Encerrada a regulamentação das apostas online, já são mais de 100 pedidos de autorização de funcionamento de empresas da área. Mas regular para arrecadar não resolve o problema. A questão é mais profunda.
A publicidade das apostas deve acabar ou tornar-se extremamente restrita. É um monumental desafio para o Governo Lula, o Congresso Nacional e toda a sociedade. Trata-se de uma epidemia e de agiotagem online. O Brasil precisa dar um basta a esse descalabro.
() *Deputado federal (PT-PR)